ATA DA CENTÉSIMA TRIGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 08.10.1991.

 


Aos oito dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e noventa e um, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima Trigésima Nona Sessão Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Centésima Trigésima Oitava Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foi encaminhada 01 Emenda do Vereador Clóvis Ilgenfritz ao Projeto de Lei do Legislativo nº 86/91 (Processo nº 1234/91). Do EXPEDIENTE constou o Ofício s/nº do Deputado Valdir Fraga e, ainda, o Ofício Circular s/nº, do Vereador Rafael Antonio Silva. A seguir, o Senhor Presidente registrou o transcurso, hoje, do aniversário da Vereadora Letícia Arruda, saudando Sua Excelência pela data. Ainda, registrou a presença, na Mesa dos trabalhos, da Senhora Inge Margreth Böhn Alemann, Adida para Assuntos Culturais e consulares da Embaixada da Noruega, acompanhada do Doutor Silvano Rocha, coordenador do Instituto de Intercâmbio Internacional. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra a Suas Senhorias, que discorreram acerca dos motivos de suas visitas a este Legislativo, salientando a importância do intercâmbio entre Porto Alegre e a Noruega, e defendendo a instituição de cidades-irmãs entre nossa Capital e cidades norueguesas. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vereador Antonio Hohlfeldt que, em nome da Casa, saudou os visitantes. Às quatorze horas e trinta e três minutos, foram suspensos os trabalhos nos termos do artigo 84, II, do Regimento Interno, sendo os mesmos reabertos às quatorze horas e trinta e sete minutos, após constatada a existência de “quorum”. Em continuidade, o Senhor Presidente informou que o período de Comunicação da presente Sessão seria destinado a debate da marcha de pequenos agricultores e de sem terras, que culminará em Porto Alegre no dia dezesseis do corrente, conforme o Requerimento nº 275/91, aprovado pela Casa, de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença, na Mesa dos trabalhos, dos Senhores Altemir Tortelli, representando o Departamento Rural da CUT/RS e o Movimento SOS – Vida, e Gilberto Portes, representando o Movimento Sem-Terra, e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre os motivos que o levaram a propor o presente debate, analisando a forma como o processo de migração rural influi na nossa sociedade, acarretando dificuldades profundas para todo o País. Ainda, delineou o quadro hoje apresentado pelo setor agrícola no Estado, fortemente prejudicado pela crescente concentração de terra verificada a nível estadual e nacional. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancada do PCB e do PFL, dizendo ser o direito à vida maior que o direito à propriedade, defendeu a reforma agrária, discorrendo sobre os benefícios dela resultantes para o desenvolvimento de um país. O Vereador Omar Ferri, em nome da Bancada do PDT, procedeu a uma análise das causas e circunstâncias que envolvem o problema agrário, classificando esse como o mais grave dos problemas brasileiros e criticando a forma como o mesmo foi tratado pelo Congresso Nacional. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Altemir Tortelli, que discorreu sobre a importância da presente discussão, falando dos objetivos e das lutas do Movimento SOS-Vida. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de documentação do Senhor Altemir Tortelli, referente à luta pela reforma agrária. Ainda, durante a Sessão, foram registradas as presenças, no Plenário, do Doutor Antônio Carlos Jordão, Prefeito de Jaguari, e dos Senhores Eudo Tâmbara, Vereador, e Jader Fagundes, Presidente do PDT de Jaguari. Às quinze horas e vinte e cinco minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para reunião conjunta das Comissões de Finanças e Orçamento, de Justiça e Redação, de Urbanização, Transportes e Habitação e de Saúde e Meio Ambiente, e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Airto Ferronato, Leão de Medeiros e Clóvis Ilgenfritz e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros e Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário deste Legislativo, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após ser distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Srs. Vereadores, hoje, aniversaria a nossa Ilustre Vereadora, a única Vereadora da Casa, a nossa Vereadora Letícia Arruda. Em nome da Mesa e dos Srs. Vereadores o nosso abraço todo especial, parabéns e muitas felicidades.

Nós temos a satisfação de receber a visita à Câmara Municipal de Porto Alegre da Srª Inge Margreth Böhn Alemann, Adida para Assuntos Culturais Consulares da Embaixada da Noruega no Brasil. Acompanha a Srª Inge o Dr. Silvano rocha Netto. Srs. Vereadores desta Casa, queremos registrar da satisfação que temos em tê-la conosco, nesta tarde e nossos agradecimentos pela visita que a Senhora faz a nossa Câmara Municipal.

Passamos a palavra ao Dr. Silvano Rocha Netto.

 

O SR. SILVANO ROCHA NETTO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, queremos dizer da satisfação de termos em Porto Alegre, pela primeira vez, representante da Embaixada Real da Noruega no Brasil, a Srª Inge Margreth Böhn Alemann, que está no Rio Grande do Sul para prestigiar a Semana, que está sendo realizada, de divulgação da cultura nórdica e especialmente do milênio da descoberta da América pelos Vickings, também traz uma idéia muito interessante que acho que merece a nossa atenção que é a do estabelecimento de acordos de cidades irmãs, e a proposta do estabelecimento de cidades irmãs, uma cidade-irmã na Noruega com a nossa Capital, aqui. Este acordo de cidades irmãs não é um acordo formal no sentido burocrático, no sentido de algo ligado a ministérios ou embaixadas. Claro que a embaixada tem uma participação direta nisto, já que procurará escolher uma cidade que se coadune com a nossa e que também tal cidade aceite esta irmandade. Isto é uma coisa muito forte porque é como um laço de sangue que se estabelece. É um compromisso que se estabelece não formalmente, e burocraticamente. É um compromisso que se estabelece, inclusive, de intercâmbio, seja de parlamentares, de jornalistas, de estudantes, de trabalhadores da área da cultura, enfim, das diversas áreas representadas numa municipalidade. E é muito importante ressaltar que nos países escandinavos a estrutura é municipalista. Não existe, por exemplo, aquela estrutura em nível de Estados, como temos, mas, sim, as comunidades, as comunas, que são as nossas comunidades. Muito Obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra a Senhora Inge Margreth Böhn Alemann.

 

A SRA. INGE MARGRETH BÖHN ALEMANN: Uma boa tarde a todos. Eu não tenho muito o que agregar ao que falou o Sr. Silvano. Mas acho que a idéia de fazer, não só em Porto Alegre, mas em todas as cidades do Brasil, as cidades irmãs. Isto evita, por exemplo, a burocracia. Onde há uma embaixada, a pessoa se dirige, vamos supor à Embaixada da Noruega, que, por sua vez, escreve ao Ministério de seu país e este por sua vez também se dirige à municipalidade da Noruega. Então se perde muito tempo e ao longo do caminho também se perde muito do interesse. É uma coisa mais ou menos particular - não oficial. Pegamos uma cidade, por exemplo, como Granado que é uma cidade muito bonita daqui, e as características que eu vi quando estive lá, num almoço que era dedicado ao turismo e malhas. Na Noruega deve haver também uma cidade assim, chamando para o turismo. Temos cidades com tecidos, malhas, que se fazem a mão que devem, por exemplo, parecerem-se com Gramado.

Acho, então, que a Embaixada pode encontrar na Noruega uma Cidade que mais ou menos corresponda com as características de Porto Alegre, Canela, Gramado, por exemplo.

Então, existe a humanidade, a irmandade entre os povos e é muito mais interessante que não se dê só oficialmente, através de governos, mas através de irmandades de cidades, por exemplo, como propomos.

Então, essa é a idéia que eu vejo que existe no Texas, nos Estados Unidos. Em Houston, sua Capital, onde estive, há muitos anos, como cônsul. Houston tinha uma cidade-irmã, norueguesa, com características semelhantes, de zona petrolífera. Mas existem outros exemplos em outros locais. Quando estive na Polônia, soube de uma cidade-irmã no norte da Polônia.

Esta idéia, Dr. Silvano, está entusiasmando muito. Acho que esse seria um caminho não muito oficial, mas ajudaria para maior compreensão entre os povos. Muito obrigada.

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Concedemos a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Ilmo Sr. Vereador Airto Ferronato, Vice-Presidente da Casa na Presidência dos trabalhos, companheiro Leão de Medeiros, Secretário, Srs. Vereadores, Srª Inge Margreth, Adida para Assuntos Culturais Consulares da Embaixada da Noruega no Brasil, companheiro Dr. Silvano Rocha Neto que acompanha aqui a representante da Noruega. Eu tive o prazer de me encontrar com a Srª Inge ontem a tarde no estúdio da Rádio Guaíba, quando ela concedia uma entrevista, e pela importância dessa visita, ainda que uma visita que talvez tenha passado infelizmente despercebida dos meios de comunicação, e porque ela me expunha exatamente a idéia de eventualmente propor isto que ela verbalizou agora, no sentido de aproximar alguma cidade da Noruega, da Cidade de Porto Alegre, enquanto esta idéia de cidade-irmã que já desenvolvemos aqui, com uma cidade japonesa, uma francesa, uma italiana, lembra o Ver. Vicente Dutra, me pareceu que seria oportuna, me pareceu importante que a Senhora visitasse a Câmara, e nesse sentido, fizemos a visita a ela. Queremos dizer que Porto Alegre é efetivamente uma Cidade que centraliza toda a movimentação cultural, industrial, comercial, política do Estado, não só por ser a Capital, como por receber todo o movimento de migração, não apenas do interior da província, como de outros Estados, Santa Catarina, ou de enviar trabalhadores e habitantes a outros Estados. O Rio Grande do Sul é um Estado de colonização, temos gaúchos por todo o Brasil, Pará, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, e nesse sentido nos parece extremamente importante a sua idéia. Queremos lhe dizer que temos aqui o companheiro Adaucto Vasconcellos, que acompanha, em nome do Gabinete do Sr. Prefeito Municipal, todas as Sessões, e leva esta sua colocação para que possamos, inclusive através da intermediação do Sr. Silvano, concretizarmos esta idéia se assim entender o Prefeito Olívio Dutra e, sobretudo, dizer que acho é oportuno que esta Casa tenha sido o espaço desta intermediação. Esperamos, efetivamente, que possa haver aproximação de países como a Noruega, Finlândia, Islândia, Dinamarca, Suécia, são países um pouco míticos para nós, brasileiros, como da mesma forma dizia a Srª Inge, também para esses europeus do Norte, o Brasil é um pouco mítico, distante, e, no entanto, até porque vamos comemorar, no próximo ano, os 500 anos da conquista deste Continente por europeus, através de portugueses e espanhóis, é bom que se lembre que em mito, ou não, temos as referências aos vikings navegadores que teriam sido os primeiros descobridores destas rotas marítimas, como muito bem lembrou a nossa visitante. E seria, sem dúvida nenhuma, oportuno até porque é bom lembrar que países como a Suécia receberam exilados brasileiros e sul-americanos nas décadas de 1960 e 1970, lembraria o Fernando Gabeira que permaneceu na Suécia durante longo tempo, o escritor Tabajara Ruas, inclusive, produziu dois romances na Suécia, sendo que uma novela policial, foi escrita originalmente, em sueco. E lembraria, inclusive, que o Tabajara, hoje, é o tradutor dos textos originais de Hans Christian Andersen para o português, publicados através da Editora Quarup, aqui de Porto Alegre. Então, bem ou mal, muito pouco, esses países, - que de uma certa maneira a Srª Inge acaba hoje aqui representando não só a Noruega, mas toda essa grande região da Europa do Norte -, se aproximam um pouco do nosso Estado ao menos e um pouco do nosso País e certamente será interessante se nós pudermos concretizar essa aproximação também através dessa idéia das cidades-irmãs. E que possamos dizer que esta Câmara, em 1991, neste dia 8 de outubro, quem sabe lá terá iniciado esse projeto e concretizado essa idéia. Queremos, portanto, em nome dos nossos companheiros de Bancada, dos 33 Vereadores de diferentes oito partidos, dar-lhes as boas-vindas e, sobretudo, que a Srª Inge leve, através da embaixada, a nossa mensagem de carinho à Noruega, aos noruegueses e, muito especialmente, a essa idéia de aproximarmos as nossas Cidades. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos informar que o Dr. Silvano Rocha Neto, médico, é Coordenador do Instituto de Intercâmbio Internacional.

Mais uma vez agradecemos pelas presenças do Dr. Silvano Rocha Neto e da Adida para Assuntos Culturais e Consultares da Embaixada da Noruega na Brasil Srª Inge Margreth Böhn Alemann. O nosso abraço e a nossa saudação.

Suspendemos os trabalhos da presente Sessão por dois minutos para as despedidas.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 14h33min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 14h37min): Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão.

Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

Hoje dedicada ao debate das questões relacionadas com a marcha de pequenos agricultores e de sem-terras que culminará em Porto Alegre, no dia 16 de outubro de 1991, a Requerimento do Ver. Antonio Hohlfeldt.

Fazem parte da Mesa o Sr. Altemir Tortelli, representando o Departamento Rural da CUT/RS e o Movimento SOS-Vida, e o Sr. Gilberto Portes, representando o Movimento Sem-Terra.

Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Ver. Airto Ferronato, companheiros Altemir Tortelli e Gilberto Portes, Srs. Vereadores. Na semana retrasada, quando no exercício da Prefeitura de Porto Alegre, recebemos a visita dos companheiros no Executivo Municipal. Companheiros que de certa maneira integram e organizam a marcha dos colonos sem-terra e pequenos proprietários, pequenos produtores rurais, que se desloca de vários pontos até Porto Alegre e que aqui deverão chegar dentro dos próximos dias. Da discussão, ficou-me uma imensa preocupação, o que me motivou a apresentar esse Requerimento e a propor essa discussão e queria, Srs. Vereadores, que fosse exatamente uma discussão. Se não fosse cometer um sacrilégio, diria: tentar colocar uma discussão fora da disputa eventualmente ideológica da questão da reforma agrária e do sem-terra. Colocar essa discussão fora da disputa que, tradicionalmente, existe entre uma visão mais conservadora, de fazer ou não fazer reforma agrária, de como fazer reforma agrária e dos que defendem a reforma agrária, até mesmo com a ocupação de terras públicas ou privadas. O aspecto que gostaria de trazer à consideração dos Srs. Vereadores e neste sentido, talvez, não apenas como Vereador integrante da Bancada do Partido dos Trabalhadores, mas enquanto Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, enquanto Vereador desta Cidade, enquanto morador de Porto Alegre, enquanto alguém que tendo um filho de 14 anos se preocupa com o que vai ocorrer no futuro em relação à nossas cidades - é a seguinte discussão: há menos de trinta anos tínhamos cerca de 50% da população, ou menos, morando em nossas cidades, nos centros urbanos, e outro tanto morando nas zonas rurais, agrícolas. Hoje, inverteram-se os percentuais e temos apenas 30% das pessoas habitando as zonas rurais, em processo de concentração crescente da propriedade de produção monopolizada de produtos, dentro de modelos que todos cansamos de discutir, de condenar, ou apoiar, mas que persistem e têm gerado o fenômeno que se chama migração rural, que têm gerado o triste fenômeno que se chama inchaço das cidades. E aí, Senhores, não tem Vereador ou Prefeito do PDS, PFL, PT, PDT, PMDB ou qualquer outro político que resista. E é por isso que eu queria trazer essa questão, de certa maneira, fora das disputas tradicionais, que tradicionalmente se colocam em termos de ideologias, se nós apoiamos ou não. Acho que o problema tem, sim, uma discussão ideológica, sem dúvida nenhuma, mas tem outro aspecto que quero trazer hoje, e por isso apresentei o Requerimento que foi aprovado pelo Plenário, diante da minha ausência, o que quero agradecer - é que qualquer Prefeito, seja de que partido for, em Porto Alegre, na Grande Porto Alegre, em cidades de maior desenvolvimento e concentração urbana enfrentam, hoje, a grande e problemática questão da migração rural, que nos traz levas e levas de cidadãos que, enganados ou não, com utopias ou não, vêm para as cidades grandes fazer as suas vidas e, quase sempre, se tornam massas marginalizadas, frustradas, de onde sairão, depois, os nossos pivetes, os nossos marginais sociais, os nossos marginais policiais, criminais e que, depois, as soluções dadas são mais polícia, mais força e mais violência, e não se ataca, tradicionalmente, o problema lá na sua base que é a fixação do homem no campo; e acho que com isso todos nós estamos de acordo, esquerda, direita, centro ou qualquer coisa parecida; nós temos, crescentemente, problemas de produção agrícola, de abastecimento das grandes cidades. E, eu ao longo dos últimos 15 ou 20 anos como jornalista, como professor convidado em universidades no interior, e eventualmente como político militante, tenho viajado por este Estado, tenho visto profundas modificações nessas nossas cidades, modificações em Santa Maria, Ijuí, Passo Fundo, Bagé que eram auto-sustentáveis nos seus produtos agrícolas, nos seus armazéns de esquina, nas suas propriedades de periferia de cidade, em que o verdureiro, o leiteiro trazia os produtos para dentro dessas cidades, para não falar de Porto Alegre, para ficar mais próximo das zonas rurais, e que, hoje, enfrenta essa situação constrangedora, triste de serem reabastecidas por redes de supermercados, que vão comprar produtos agrícolas em São Paulo, trazendo produtos do centro do País, porque ali à 10 km de Ijui, à 5 Km da encosta da serra de Santa Maria da Boca-do-Monte, não se produz mais aquele produto básico; e estes homens, mulheres, jovens e crianças que viveriam desta produção, que abasteceriam estas cidades, garantiriam um produto de qualidade nesses locais, migram para as cidades, e vão ser os marginais desta cidade, e vão gerar por seu lado, não querendo, pois não migraram porque quiseram, os problemas que os prefeitos de qualquer partido, os Vereadores de qualquer partido, os administradores de qualquer partido e ideologia tentam enfrentar e, dificilmente, conseguem, a não ser que murássemos as nossas cidades, transformando-as nos antigos guetos medievais, impedíssemos que essas populações voltassem, ou fretássemos ônibus e os despejássemos de volta à beira da estrada para evitar que eles ocupassem os espaços urbanos; aí eles vão ser mão-de-obra barata, vilipendiada, vão ser pessoas frustradas, famílias absolutamente dissociadas e quebradas, sobretudo, quem sabe pessoas revoltadas, porque não tiveram a sua mínima oportunidade, uma chance de viver um mínimo com dignidade humana. É sobre esta perspectiva, Senhores Vereadores que eu queria trazer esta discussão; estamos acompanhando a marcha dos colonos sem-terra, dos pequenos proprietários, pequenos produtos rurais de vários pontos do Estado até Porto Alegre. Chegarão à nossa Cidade nos próximos dias. Tivemos o episódio da ocupação de uma área da EMBRAPA            nestes dias, sobre tudo isto nós temos, talvez, posições antagônicas, conforme nossas posições ideológicas, nossas posições partidárias. Agora, certamente, todos nós temos hoje uma única preocupação. Hoje, este movimento expressa de uma certa maneira uma coisa que ultrapassa a questão ideológica e a questão partidária, uma coisa que diria tem uma conotação, nitidamente, ecológica, no sentido mais original desse termo, de uma certa maneira estão sim, discutindo e nos alertando para as questões de equilíbrio, equilíbrio lá na zona rural, e equilíbrio aqui na zona urbana. Não apenas em termos de paisagem, mas, também, naquilo que a ecologia aborda que é o equilíbrio humano, das relações humanas de classes sociais, de condições de sobrevivência de pessoas.

Era sobre esta perspectiva que queria me permitir chamar a atenção dos Srs. Vereadores, nós que somos Vereadores desta Cidade, que vemos a cada dia, grupos e grupos de cidadãos chegarem a esta Cidade e irem, cada vez mais, para suas margens, gerando todos aqueles desafios de pesadíssimos investimentos em infra-estrutura.

E, por outro lado, vimos a ocupação de terrenos na zona urbana numa tentativa de sobrevivência.

Sei que é difícil, e talvez até seja o contrário de que todos nós, enquanto políticos, dizemos fazer um debate fora desta perspectiva ideológica.

E não sou ingênuo de imaginar que este debate fique fora da perspectiva ideológica. Mas, acho que há uma perspectiva paralela que não está vinculada estritamente a uma ideologia por aqui ou por ali. Há uma preocupação de todos nós. E vejo o Ver. Mano José que atua na prevenção de saúde e que como médico, conhece bem este problema. Quer dizer, temos às conseqüências na Cidade, se não atacarmos lá no início não vamos resolver este problema. Não sei se a solução é aquela específica de ocupações, se é de uma reforma agrária radical, em termos de propriedades privadas e públicas, se as terras são da Igreja, se são do Estado. As discussões estão rolando por aí, todos nós as acompanhamos e temos as nossas posições. Mas, sobretudo na condição de Presidente desta Casa quero chamar à atenção nesta perspectiva. Acho que este problema nos interessa, e acho, portanto, que essa marcha independe da nossa simpatia específica pelo movimento dos sem-terra, ou pela ideologia dos seus apoiadores, ela diz alguma coisa para nós, inclusive como um alerta para esses desvios e essa degradação a que estamos assistindo. Era isso que eu queria fazer como um registro nesta minha manifestação, agradecendo especialmente meus companheiros de Bancada e ao Ver. Clovis Ilgenfritz na Liderança do Partido a oportunidade de me manifestar. Menos, talvez, Ver. Clovis Ilgenfritz, enquanto um petista, pois temos uma posição muito clara, mas mais, sobretudo, como o Presidente desta Casa e um Vereador desta Cidade que tem essas preocupações. E eu diria até como um brasileiro que se preocupa com o futuro deste País e o que vai ocorrer por aqui. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença no Plenário do Dr. Antônio Carlos Jordão, que é o nosso Ilustre Prefeito de Jaguari e para minha felicidade meu colega, fiscal de tributos estaduais. A minha saudação e a saudação em nome da Câmara Municipal.

Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann que fala em nome da Bancada do PCB, PFL e PMDB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Airto Ferronato, presidindo esta Sessão, companheiros Ademir Portelli, representando o Departamento Rural da CUT, Movimento SOS-Vida; Companheiro Gilberto Portes, representando o Movimento dos sem-terra.

Srs. Vereadores, tenho a honra de falar em nome do PCB, PFL e PMDB, pode parecer contraditório, mas os companheiros do PFL e do PMDB me deferiram essa responsabilidade. Daí por que o discurso deve ser muito cauteloso, medido, mas nem por isso destituído de uma conotação ideológica. Embora o Ver. Antonio Hohlfeldt tenha dito que não pretendesse discutir o problema dos sem-terra e da marcha dos pequenos agricultores, à luz de um processo sem ideologia eu não posso me furtar a essa questão. Porque me parece que no fundo, no bojo do problema dos sem-terra e dos pequenos agricultores está a questão da propriedade. Infelizmente, nós temos assistido, aqui, em nosso Estado, demonstrações e discursos que colocam a defesa da propriedade acima e antes da defesa da vida. Isso é um processo completamente fora da realidade. O direito a vida precede a todos os outros direitos, e também o direito a propriedade, e, no entanto, existem defensores do direito da propriedade, que pospõem o direito a vida. Essa é uma das questões! A outra, é a que se refere o Ver. Hohlfeldt, hoje, no Brasil, se inverteu a proporção entre os moradores do campo e os moradores da cidade. Há 30, 40, 50 anos atrás, 70% da população brasileira vivia no campo, e 30% na cidade; hoje se inverteu essa proporção. As cidades brasileiras estão inchadas, estão sobrecarregadas, por quê? Porque o campo não consegue dar abrigo aos seus habitantes, ou, aos que descendem daqueles que viviam originalmente no campo. E, isso causa o desequilíbrio social, econômico, político, sanitário, sobre todas as ordens do processo de vida brasileiro, e, uma degradação do nível de vida do nosso País, das nossas populações. Eu acho que o sem-terra, os pequenos agricultores fazem muito bem ao pressionarem as autoridades em todas as direções no sentido de que se atente para esse grave problema porque, querendo ou não, o Brasil foi erigido como um dos países produtores de alimento do mundo. Nós somos uma vasta extensão territorial e temos que aproveitar isso. E, o restante do mundo, principalmente o mundo industrializado, nos erigiu como fornecedores de matérias-primas básicas e dentre elas os alimentos. Agora, como é que vamos produzir alimento para o mundo, se não temos uma racional e equilibrada distribuição da terra. Está provado estatisticamente, não sou eu que faço isso, é o Banco do Brasil, são as instituições oficiais do País, que dizem que a maior soma da produção agrícola brasileira vem da pequena propriedade e não da grande propriedade. Mais de 50% da produção agrícola sem limite. Por isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, prezados companheiros presentes dos sem-terra, é preciso se pressionar cada vez mais, as autoridades deste País, no sentido de que tomem uma medida política, e proponham, não uma reforma agrária que vise simplesmente à distribuição de terra, não é disso que se trata, queremos mais, queremos uma política agrícola e agrária que defina os rumos deste País, da população enorme deste País que carece de alimentos, e não é simples distribuição da terra que se vai atingir, são medidas complementares, crédito agrícola, crédito de sementes, proteção à intempéries, transporte, armazenamento, distribuição, beneficiamento, há uma série de fatores que compõem este quadro. E, claro, no bojo disso tudo, o acesso à terra para que os agricultores, que detém essa técnica milenar, possam exercer a sua tarefa. Estamos empenhados num processo de reforma urbana, tenho dito isso em nível privado, e quero, pela primeira vez, dizer em nível público, para que fique registrado nos Anais, eu alimento uma secreta esperança de que ao pressionarmos a reforma urbana, acabemos conseguindo até a reforma agrária. Não sei explicar isso, porque demandaria um estudo mais profundo, e uma análise mais complexa, mas me atrevo a dizer isso, perfunctoriamente, ao pressionarmos uma reforma urbana, porque ela é conseqüência da falta de uma reforma agrária, acabaremos invertendo o eixo dessa discussão, e, quem sabe, tomara que cheguemos à reforma agrária tão desejada e sonhada por nós, para que este País possa se reequilibrar, campo e cidade, num processo de crescimento equilibrado, racional, justo, e um aumento na qualidade de vida para todos que habitam neste País. Por isso, também saudamos com muita ênfase a abertura que o movimento dos sem-terra está dando em nível político, procurando se acercar de todos os movimentos sociais, independentemente de sua coloração específica, porque acho que somente ampliando esse nível, ampliando esse leque de forças concêntricas e homogêneas, é que se conseguirá algo. Acredito que em boa hora o movimento dos sem-terra, e todo esse processo, está começando a se dar conta de que o processo de radicalização excessiva conduz a um determinado isolamento. Isso não é bom tanto para o movimento como para a sociedade. Por isso, saúdo os companheiros e, no dia 16, estaremos todos juntos na grande manifestação que está acontecendo nesta Cidade e em nível de todo o Brasil, a fim de que os detentores do poder, a classe dominante, se convença de que ela não vai conseguir sustentar seus privilégios se não abrir mão de muita coisa que ainda nos falta. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças dos Srs. Vereadores Eudo Tâmbara, Sr. Ver. Jader Fagundes, este também Presidente do PDT, ambos de Jaguari, bem como S. Exª o Sr. Prefeito Antonio Carlos sarau Jordão, daquele Município. Sejam bem-vindos.

Com palavra o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente dos trabalhos, Srs. convidados, Srs. Vereadores de Jaguari, Srs. Vereadores, senhores e senhoras. Embora o Ver. Antonio Hohlfeldt tivesse falado em nome do PDT, como consta no espelho desta Sessão, fiz questão de que o Partido comparecesse a esta tribuna para um pronunciamento oficial. Por isso, sinto-me honrado pela incumbência conferida pelos Vereadores Nereu D’Ávila e Ervino Besson.

Falar das dificuldades pelas quais atravessa o pequeno agricultor neste País, parece que vale muito menos uma análise superficial dessa fenomenologia do que uma análise das causas, conjunturas e circunstâncias da situação que envolve o problema. Muitos dentre nós são descendentes de pequenos agricultores, como é o caso do Ver. Ervino Besson, é o meu caso, em Encantado, meus parentes, meus avós, tanto por parte de pai, como por parte de mãe eram agricultores. Mas eu acredito Besson que os teus parentes aportaram a esta Pátria porque houve problemas com eles lá na Pátria mãe. E houve mesmo. A vida dos meus antepassados na Europa era mais precária e a pior possível, o inverno era tenebroso, não existiam terras e eles trabalhavam em glebas de propriedade dos grandes senhores rurais italianos. Eu até diria, citando alguns renomados autores, que, em meados do século passado, perambulavam pelas ruas de uma das mais esplendorosas cidades do mundo em matéria de símbolo, de arte, que é Florença, eu diria que perambulavam pelas ruas de Florença milhares de mendigos. Com a leva de imigrantes o Brasil, também, aos poucos, começou a sofrer este mesmo problema. E qual foi o fenômeno de nossa área rural? Foram dois. Em primeiro lugar, a propriedade de quem, aqui, aportava era pequena, um lote de terras de 25 hectares. Com o nascimento e casamento dos filhos, as propriedades foram diminuindo de tamanho, de tal forma que se inverteu o problema. Existem regiões onde predomina o minifúndio, que é a forma anti-econômica da propriedade da terra. Então, tivemos que emigrar para Santa Catarina, como aconteceu com o Besson, Paraná, etc. Mas, ocorreu lá um fenômeno muito interessante que acho que poucas pessoas se detiveram numa análise percuciente do problema. É que a tese oligárquico-burguesa-latifundiária de que com as partilhas e os inventários a reforma agrária surgiria como decorrência natural do fenômeno da transmissão, não ocorreu. E, nas cidades de Santa Catarina, do Paraná e em muitos Municípios do Rio Grande do Sul, os médios proprietários, que mecanizaram suas lavouras pelo aporte de máquinas, foram adquirindo as propriedades vizinhas, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De tal forma que também foram expulsos os agricultores de Santa Catarina e do Paraná. Foram para Rondônia, Bahia, Região Amazônica, Mato Grosso do Norte, Mato Grosso do Sul, etc. Mas que coisa incrível este País! Vejam bem, não temos terras para os brasileiros, mas as empresas estrangeiras são donas de quantidade de terra tão enorme que, se unidas, se igualariam à superfície de sete Estados brasileiros, começando com o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, etc. Não temos terra para trabalhar, mas o estrangeiro veio aqui e instalou um império de três milhões e quinhentos mil hectares, financiado pelas burras do Banco do Brasil e, num determinado dia fez assim, para nós - como diz o italiano - chave te, e se sumiu, obrigando um pool de empresários brasileiros a assumirem o tal de Projeto Jarí. Afora isso, se disseminaram jagunços e grileiros, que são os instrumentos dos grandes fazendeiros na prática do roubo e do assalto a terra. Paralelamente, o que aconteceu no País? A Nação passou, através dos incentivos fiscais, a incentivar as grandes empresas nacionais, que foram destruindo florestas e estabelecendo o sistema pastoril no sul da Região Amazônica. Quer dizer que o problema brasileiro cada vez mais se agrava, aqui, em santa Catarina, no Paraná, na Bahia, em todos os locais, apesar da grande extensão, dos grandes latifúndios, os nossos agricultores são expulsos e são obrigados a chamar a atenção do Governo para o mais grave problema de todos quantos afligem o País, que é o problema da reforma agrária que tão sabiamente, tão maliciosamente, tão apatifadamente, o Congresso Nacional resolveu dar a competência da reforma agrária ao Governo Federal. Isso esfriou a reforma agrária no Brasil.

Então, estamos vivendo esse quadro de angústias. E lembro-me - já que não se pode analisar o problema pelas conseqüências fatais da época presente - que quando um brasileiro tentou implantar um sistema de reforma agrária no Rio Grande do Sul, no banhado do Colégio, na Fazenda Sarandi, no Bacopari, etc., tentou e fez, mas os Governos subseqüentes tiraram toda a assistência da reforma agrária tentada pelo Engº Leonel Brizola, então Governador do Rio Grande do Sul, “deu com os burros n’água”. A tese deles é que agricultor não sabe plantar; recebe a terra e, depois, vende a terra, quando, na verdade, o Governo impediu que quem recebesse terras pudesse se fixar e fazer com que esta terra desse rendimentos e frutos. Estão dizendo aí que tem que ser dada a terra, mas é a política agrária, o financiamento. E daí? Qual o mistério? Por acaso o latifúndio brasileiro não está reivindicando, agora, mais de 70 bilhões para o financiamento das safras? O Governo prefere dar financiamento a quem tem terra do que fazer a reforma agrária, e resolver o problema mais angustiante da cidadania brasileira. E o PDT, que tem raízes nessa fenomenologia, que foi o primeiro partido político a desfraldar neste Estado a bandeira da reforma agrária, que, através do seu ex-Governador, foi o primeiro que tentou implantar colônias de reforma agrária no País, não poderia ficar silencioso, e não poderia deixar, oficialmente, em nome do Partido, de dar solidariedade a essas pessoas, a esses pequenos proprietários que encetaram esta caminhada para chamar a atenção dos governos para este grave problema social, que é o problema da reforma agrária, que é um problema institucional, que é o grande problema da pátria; embora os oradores anteriores dizerem como se vai resolver este problema, eu diria não sei, diria apenas que as coisas deste País estão condicionadas de tal forma que é impossível fazer a reforma agrária. Não há medida administrativa que possibilite a reforma agrária; só um grande movimento político de consciência, um grande movimento de massa até com grandes apelos revolucionários, é possível que se comece por aí a desfilar este nó górdio que representa a reforma agrária. Enquanto isso, vamos vivendo neste estado e neste estágio de miséria, fazendo votos que possamos nos dias futuros resolver este grave problema, e prestando a nossa pública solidariedade a estes movimentos que estão proclamando e conclamando a Pátria e chamando a atenção dos governantes para o problema que diz respeito à reforma agrária. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Altemir Tortelli, representando o Departamento Rural da CUT/RS e o movimento SOS-Vida.

 

O SR. ALTEMIR TORTELLI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, em nome do Movimento SOS-Vida, gostaríamos de agradecer a oportunidade para que possamos colocar aqui, o motivo que nos mobiliza a caminhar, a fazer atos de mobilização. Em primeiro lugar, gostaríamos de dar alguns dados para provar que o problema, hoje, da terra, ligada à política agrícola e à questão da política agrária, deve ser uma das discussões de fundo do conjunto da sociedade e não, simplesmente, uma discussão, uma mobilização numa ação dos setores ligados ao campo. Alguns dados que acho importantes: no Sul do Brasil ainda sobrevivem mais de 1 milhão de pequenos agricultores, de pequenas propriedades com menos de 50 hectares, somente do Paraná para baixo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Dados do Rio Grande do Sul que são importantes: são mais de 497 mil estabelecimentos rurais, destes, 431.339 são pequenas propriedades com menos de 50 hectares. E 25,4% da área é trabalhada por pequenos agricultores. Da produção, 70% dos alimentos destinados ao abastecimento do mercado interno são produzidos por pequenos agricultores; 78,3% do milho; 85,6% do feijão e 42,5% da soja é colhida pelos pequenos agricultores com até 50 hectares.

Temos, no Estado, bilhões de hectares de terra improdutiva, que poderiam se fazer assentamentos, se poderia fazer reforma agrária, aqui, no Rio Grande do Sul.

O pequeno agricultor, provando por estes números, tem condições de ser competitivo, tem condições de produzir os alimentos, aumentar a produção de alimentos para este Brasil que passa fome. Temos experiências em assentamentos, onde os trabalhadores, organizados pelo movimento dos sem-terra, são modelos de produção e produtividade, aqui no Rio Grande do Sul, provando que, se dermos condições, há condições de se produzir mais, em quantidade maior e melhor.

O que é o SOS-Vida? O SOS-Vida é um movimento que vem juntando várias entidades preocupadas em fazer com que as autoridades deste Brasil olhem para esta realidade, vejam que é preciso ter políticas sérias, mas que, além de políticas, tem que se efetivar ações concretas no campo da política agrícola e agrária.

Todos nós sabemos que o Governo Collor prometeu que ia, nos seus 5 anos de Governo, assentar 500 mil famílias de trabalhadores sem terra. Até este momento, nenhuma família foi assentada. Nem no Rio Grande do Sul, nem no Sul do Brasil, em nenhum lugar do Brasil foram, até este momento, legalizados alguns assentamentos dos Governos passados.

Nós também devemos saber, acho que os Vereadores sabem, que a política agrícola, trabalhada pelo Governo Collor, é totalmente voltada para a exportação, para estimular o setor da agroindústria e para estimular os grandes proprietários de terra neste Brasil, inclusive estimulando a concentração de terra. O Governo do Estado também tem políticas para o setor agrícola, mas são políticas muito tímidas. Os projetos da semente de milho, os projetos dos condomínios, são projetos que nós entendemos viáveis, mas que tem que ter uma ofensiva maior, tem que ter maiores recursos e participação direta das entidades que organizam os trabalhadores. Então, essas entidades, representadas pelo movimento sem-terra, pelo movimento das mulheres trabalhadoras rurais, pelo movimento dos atingidos por barragens e pela CUT, Departamento Rural da CUT e, também, com a participação das CPT, organizando, inclusive, a partir desse ano, um outro movimento que foi o SOS-Vida, que tinha o objetivo de colocar para toda a sociedade a problemática que estamos vivendo. E fez uma mobilização, teve pauta de negociação, negociou em Brasília, negociou aqui em Porto Alegre, articulou com o conjunto das autoridades, especialmente do Governo Estadual, com a Assembléia Legislativa, só que as reivindicações e as respostas concretas foram muito reduzidas. Por isso, nós, novamente, estamos nos mobilizando com outro nome, SOS-Vida, porque entendemos que a agricultura não está com tantos problemas para muitos, ou para uma minoria, o problema está para quem sobrevive na agricultura hoje, que é o pequeno agricultor, que é o sem-terra, que é a mulher trabalhadora rural. Por isso o SOS-Vida e são essas as entidades que estão colocadas. Quais são os nossos objetivos, agora? Nós queremos, além de negociar as nossas reivindicações, crédito. Nós entendemos que é necessária uma linha de crédito especial, por parte do Governo Federal e também por parte do Governo Estadual, para investir na pequena propriedade, investir no pequeno agricultor. Porque, se nós investirmos na propriedade, é um recurso que, a curto e médio prazo, vai ter retorno. Investir em construção de galpão, investir em recuperação de solo, investir em ampliar os setores da produção do pequeno agricultor. A outra reivindicação é terra para que as 2.400 famílias, hoje acampadas, consigam ter onde plantar, ainda, essa safra. A terceira reivindicação é da moradia. Entendemos que também deve ser atacada a questão da moradia no setor urbano. A quarta reivindicação é a questão da saúde e, principalmente, a saúde da mulher trabalhadora rural. A quinta reivindicação é uma política diferente frente às barragens, a esse projeto fantástico de construção de barragem que expulsa o homem da roça e não tem nenhuma preocupação com a questão social. A última reivindicação é a libertação dos companheiros presos injustamente, e é uma forma de pressão que estamos fazendo.

O segundo objetivo, além de negociarmos nossas reivindicações, é colocar para o conjunto da sociedade, como o companheiro coloca, a intenção de transformar esse SOS-Vida num movimento que não seja simplesmente assumido por nós, mas que o problema da reforma agrária, do êxodo rural, da falta de política agrícola para fazer com que o pequeno agricultor - esses 400 mil pequenos agricultores que estão morando na roça - continuem lá, não venham causar problema aqui na Cidade. Por isso, temos que nos mobilizar, temos que exigir políticas sérias e ofensivas, tanto do Governo Estadual como Federal. Também queremos colocar em nível internacional os problemas que vivem hoje nossos trabalhadores do setor rural, principalmente com a vinda da autoridade máxima da Igreja, o Papa, que vai estar no Sul do Brasil nesses dias, queremos colocar a real visão, a realidade do trabalhador rural para o mundo. Entendemos que é possível fazer essas mobilizações. Estamos com duas caminhadas, uma saindo de Palmeiras e outra saindo de Bagé, passando por vários Municípios e discutindo com a comunidade desses Municípios e tentando fazer com que essas populações se envolvam nas mobilizações. Vamos chegar em Porto Alegre no dia 16, realizaremos um acampamento de três dias, e no mesmo dia 16 queremos fazer um grande ato público para o que estamos chamando o conjunto das entidades, o conjunto da população mobilizada, o conjunto das autoridades para se manifestarem diante das nossas reivindicações. Estaremos negociando nossas reivindicações tanto com o Governo do Estado como com os órgãos representantes do Governo Federal, aqui no Estado e também em Brasília. Estamos aqui porque entendemos que esse espaço tem um poder muito grande, principalmente, aqui em Porto Alegre e, certamente, em todo o Estado, e gostaríamos de contar com a participação dos companheiros Vereadores nessa ação, inclusive no ato que vai-se realizar no dia 16, e também junto conosco para que consigamos construir esse grande movimento que entendemos justo, e para que possamos retomar a questão da discussão da reforma agrária, recolocarmos a questão da política agrícola voltada para os pequenos agricultores e discutirmos também sobre o problema urbano, sendo um problema conseqüente, hoje, da realidade do homem do campo. Se não tiver política ofensiva neste sentido, certamente, daqui a uns 10 anos não vamos ter mais quatrocentas mil propriedades no meio rural. Vamos ter muito menos. As propriedades vão ser ampliadas. Mas a população que está morando lá vai vir para a cidade e, certamente, nesta Câmara não se discutirá a questão da reforma agrária e da política agrícola. Mas terá que discutir como irá ampliar policiais para dar segurança para nossos filhos; como se vai fazer vilas, ter terrenos para construir moradias.

Então, gostaríamos de contar com a presença dos companheiros, da intervenção política dos companheiros, diante do Governo Estadual e Federal e, também, a manifestação pública de cada um dos companheiros aqui, independente de cor partidária, independente de visão política, porque acho que é um problema do conjunto da sociedade, a questão da terra, a questão da política agrícola e a questão da reforma agrária. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, informamos que a Sessão Ordinária de amanhã se realizará no Plenário grande e o Ver. Vicente Dutra, Presidente da Comissão de Justiça e Redação, convoca os Srs.Vereadores membros da Comissão de Justiça e Redação, Comissão de Finanças e Orçamento e CUTHAB, para uma reunião que se desenvolverá neste Plenário imediatamente, após o encerramento desta Sessão.

 

O SR. ISSAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu indago a V. Exª se todos os atos da Sessão Ordinária de amanhã serão no Plenário grande?

 

O SR. PRESIDENTE: Sim, Vereador, toda a Sessão se desenvolverá no Plenário grande.

Registramos o recebimento de materiais, neste momento, e nada mais havendo a tratar, encerramos a presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h25min.)

 

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